número 37

quase um ano depois e me pego na mesma situação. claro que não é exatamente igual, afinal, eu melhorei (química e biologicamente falando), mas é verdade que o psicológico ainda paira numa realidade que não faz sentido. nunca fez. eu me vejo sempre no mesmo lugar, olho meu passado que parece ter acontecido há 2 dias, mas faz 2 anos. penso no que poderia falar com pessoas que gosto, em encontros casuais e me deparo com a triste realidade de: eu não tenho absolutamente nada a dizer. minha vida é a mesma de algum tempo atrás, sem muitas aventuras, sem nenhuma conquista. tá bom, você não é o primeiro a dizer: mas não é bem assim, você viveu pequenas conquistas, precisa valorizá-las, mas dá um tempo na terapia, para esse tipo de assunto eu já tenho sessões quinzenais. a verdade é: será que eu preciso mesmo valorizar essas pequenas coisas? se elas fossem realmente valiosas, elas não fariam mais diferença na minha vida? pode ser exagero meu, mas parece que, há 5 anos, estou vivendo a mesma vida todos os dias.

número 36

eu não era assim. claro que eu não era assim. era animada, era cheia de energia e queria sempre fazer novas amizades, conhecer pessoas e lugares, aprender sobre o máximo de coisas que eu pudesse. eu não era assim. mas mais do que não ser assim, eu não quero ser assim. todos me falam sobre o tempo que passou, dizem que isso é comum. “você nunca mais vai ser como era”, “as coisas não são assim, tudo muda mesmo”. mas, sabe? eu não consigo aceitar isso para mim mesma. eu não quero ser assim. acho que é por isso que passo tantos dias frustrada, infeliz por não conseguir as coisas que realmente quero, desde o simples ato de cuidar de uma planta, até o mais difícil planejamento de carreira que eu necessito. eu não quero ser assim porque ser assim porque me faz mal. 1não quero pesar, não quer não ter vontade de fazer absolutamente nada, não quero desistir de estudar por me achar incapaz. eu não posso ser assim. isso vai contra todas as ideias que sempre tive na vida e claro, nós podemos mudar, nós devemos mudar, mas não precisava ser tanto assim. dependermos de nós mesmos é um trágico acidente, mas pior que isso, é dependermos de pessoas que raramente estão do nosso lado. esse é o meu defeito e eu não quero ser assim.

eu voltei, não voltei

todos os dias da minha vida adulta eu me pergunto se eu estou onde deveria estar. sinto aquele frio na barriga que sentia ao ver uma pessoa que eu gostava e que agora só sinto quando alguma coisa parece não estar certa. constantemente sinto medo de viver e no silêncio e na escuridão me sinto mais confortável e mais segura do que eu nunca me senti antes, nem no colo de mãe. eu queria muito entender, porque eu gosto de entender tudo. gosto de entender o motivo das coisas acontecerem como acontecem, o motivo de as pessoas pensarem como pensam e de agirem como agem, mas eu não posso. eu não podia entendê-las quando criança, porque era criança. quando jovem, não podia entendê-las porque a falta de maturidade não permitia e agora, como adulta, não posso entendê-las pelo excesso de maturidade. cansar viver. não me admira a quantidade de pessoas que tira a própria vida diariamente. quantas pessoas simplesmente desistem de estar aqui, nessa rotina líquida, sem prazeres reais, feita apenas de momentos táteis, cheios de emoções falsas e fotografadas. eu não sou uma desistente. acho que essa é a razão de eu ainda estar salva. mas todos os dias eu consigo entender, ainda mais, os que se vão sem se despedir.

número 35

ela olhava em volta e não entendia como as coisas funcionavam. antes, tão sorridente e de bem com a vida, de certo modo até alienada, nada que acontecesse parecia ter efeito sobre seu humor, mas depois de um tempo, quando começou a ver as pessoas sem casca, parou de acreditar que elas fossem, de fato, tão boas assim. ela olhava em volta e era capaz de diferenciar situações, como as de mentira ou intolerância, mesmo que silenciosas, mas isso não era bom. de fato, quando ela olhava em volta e não entendia porque se sentia tão fora da caixa e tão fora de si, ela não conseguia entender se o problema era o mundo ou apenas ela.

número 34

ela via seus textos e pensava em tudo o que passou durante os momentos que a fizeram escrever. ela repassava as histórias para corrigir a gramática da pressa e, ao mesmo tempo, para entender o que estava acontecendo naquele dia. demorou para ela entender que a depressão tomava conta do seu corpo, que a falta de vontade, a preguiça e as mudanças em seu corpo eram culpa de uma condição médica, a qual ela nunca pensou que fosse passar. ela revisava suas informações, como se lesse um diário após anos de escrito, mesmo não sendo bem assim. tumblr_lrp3uhnc691qele35o1_500_largese lembrava dos dois anos que se passaram depois dos acontecimentos e montava uma linha do tempo em sua mente, para buscar os detalhes que a fizeram sofrer de fato e os que ainda a mantêm nessa posição. os dias se passavam e mesmo relendo todos aqueles fatos escritos em forma de poesia melancólica, ela ainda não entendia o que deveria ser feito. a busca de respostas era constante, mas as respostas adquiridas não existiam, apenas mais perguntas.

número 33

ela estava feliz e triste ao mesmo tempo. pensava nas coisas que havia escutado anteriormente, nas besteiras que é obrigada a ouvir sempre, mas também se lembrou de que ficar apegada ao passado e em coisas que realmente não importam, apenas ocupam espaço em sua mente, sendo que muitas outras coisas poderiam ocupar esse espaço. tumblr_mkdzm2zuwq1s4h0lwo1_1280não era mais seu desejo ser a rainha da sabedoria, até porque, mesmo que quisesse, levaria tempo e daria muito trabalho, e ela não estava mais tão disposta. o que ela queria era apenas isso, o desapego emocional, a harmonia psicológica, para pequenos detalhes do dia a dia não fossem mais tão incômodos.ela sabe que todo esse desejo depende apenas dela. ela toma seu café, molhando a boca amarga, assoprando suavemente a fumaça saborosa daquela xícara. ela bebe o café pensando em tudo o que fez para chegar onde está e tudo o que precisa fazer para ir para onde quer.

 

número 32

quanto tempo demora até você perceber que é hora de partir? quantas vezes precisará chorar para saber que aquilo que te faz cair, não vai te ajudar a levantar? o tempo estava passando, o relógio girando e ela continuava a se perguntar para onde devia correr. não queria jogar mais uma história no lixo, não queria ser de novo uma vítima das atividades sociais atuais, porque estava cansada de tanta superficialidade.ela corria para todos os lados, buscava informações, coisas que a fizesse ter certeza e no fim, sempre cabia a dúvida. ela estava fugindo de novo? até quando devia lutar por algo? ela só queria crescer em paz.

número 31

para onde correr? o litoral era o sonho, mas as alegrias terrenas não permitiam que ela partisse para lá. a capital já não tinha os mesmos tons de cinza que deveria, e mais ao sul, era colorido demais. o frio era frio demais e o calor, demais. ela sentia as fases suspirarem em sua alma, explicando as vastas expediências e mostrando a sabedoria adquirido, mesmo ela nem sabendo onde encontrar tanto conhecimento de si. ela meditava, chorava, respirava fundo, caminhava ruas e mais ruas tentando entender o que tanto faltava em sua vida, mas ela sempre soube que o que mais falta para ela, é mais dela.

número 30

ela via todos em volta criando objetivos, expectativas e caminhos e ela ainda estava no mesmo lugar. ela sempre esteve no mesmo lugar. ela sonhava, buscava, conhecia de tudo, mas o empurrãozinho final nunca acontecia. sabia de tudo um pouco e isso a fazia se sentir em casa em qualquer lugar, menos em sua própria casa. ouvia as vozes ao seu redor, sussurrando sonhos e experiências, os lugares que conheceram, as pessoas por quem se apaixonaram e ela pensava: quando será a minha vez? chegou a pensar que, talvez, não haja lugar para ela, talvez ela nem seja tão especial assim, como sempre se considerou. talvez o único problema fosse ela não entender que é comum.

número 29

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ela não conseguia entender aquilo tudo. aquela necessidade constante de fazer a coisa errada, de escolher de forma errada. de ver quem você ama ir embora. ela ouvia as histórias e não conseguia entender as pessoas que defendiam “mas a gente tem história”. claro que ela concordava que paixão não deve ser força motriz para a fazer escolhas, mas por que não pode ser uma dos grandes motivos? ela não conseguia entender e ela mesma já tinha feito escolhas baseadas em história, mas no fim, ela sabia, não valem a pena. ela sabia que história era passado e mesmo que elas tivessem sido boas e memoráveis, elas deram certo, mas acabaram. sabia que se ligar ao passado era doloroso, principalmente, quando o passado ajudava a tomar decisões do futuro. principalmente, decisões que duram longo prazo. ela não conseguia entender aquilo tudo, aquela dúvida em fazer o que realmente se quer, em ter certeza de não ter certeza de nada. ela não entendia aquilo.